Se nao gostas, cospe!
segunda-feira, junho 21, 2004
Desígnios nacionais
Estive ontem à noite no Marquês de Pombal a comemorar a entrada de Portugal nos quartos do Euro (ir para motéis é sempre uma coisa que merece ser comemorada), quando, no meio de pessoas a cantar o hino, a cantar "Portugal Allez" e quejandos, quem é que aparece? É verdade, no meio de não sei quantos milhares de pessoas aos berros por Portugal, aparece... um indiano a vender flores.
E aquilo fez-me pensar (mas não se preocupem, já estou melhor). Para pessoas cultas como eu, que até lêm jornais e tudo (e, sim, o "Inimigo Público" é um jornal, não estou para ter esta discussão outra vez), há um certo hábito de falar dos desígnios nacionais. Que organizar o Euro é um desígnio nacional, que investir em Espanha é um desígnio nacional, que usar camisa de alças e calças de fato de treino é um desígnio nacional, etc. A minha pergunta é: será que o Ghandi algum dia disse: "Meus caros conterrâneos, vender flores é um desígnio nacional. Espalhai-vos pelo mundo e vendei flores", "Mas, ó Ghandi, pá, isso é antes ou depois de adorarmos as vacas?", "Há um tempo para adorar as vacas e há um tempo para vender flores".´
E assim, tal como a diáspora portuguesa anda por esse mundo fora a emborcar minis e tremoços, a diáspora indiana vende flores e adora vacas. Houve um ou outro que abriram restaurantes, mas provavelmente eram de castas inferiores.